Moradora do DF, a jornalista Nana Queiroz é a criadora da campanha “Eu não mereço ser estuprada”, que já conta com mais de 44 mil adesões em um evento criado no Facebook. A manifestação foi criada, quando o Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) divulgou uma pesquisa que mostra que 65,1% dos brasileiros concordam, total ou parcialmente, que “mulheres que usam roupas que mostram o corpo merecem ser atacadas”.
— Na primeira hora a gente cresceu cem convidados a cada cinco minutos. Isso foi aumentando até chegarmos a quase 250 mil convidados. Também fizemos um grupo no Facebook para que as propostas não morressem ali - diz Nana.
Como forma de apoio ao protesto, milhares de mulheres e homens publicaram foto na rede social, com a frase que dá nome ao movimento, que ganhou apoio de celebridades e foi citado até pela presidente Dilma Rousseff.
Dentro de hospitais: mulheres são vítimas de estupro durante atendimento no DF
— Eu não esperava nada menos da presidente enquanto mulher. Fico contente que ela tenha se sensibilizado à causa. Espero que o apoio dela se converta em ações concretas como o apoio por leis mais atuais, ou talvez até uma atualização da Lei Maria da Penha para também proteger mulheres contra crimes virtuais.
Nana denuncia que, por ter idealizado o movimento, já sofreu centenas ameaças na internet de estupro e outras formas de agressão, além de mensagens de apologia ao estupro.
— Denunciei na polícia e eles estão investigando, mas vão demorar em torno de seis meses para conseguir quebrar o sigilo e encontrar o perfil dos meus agressores. Se o Marco Civil da internet já estivesse valendo, seria muito mais fácil. Penso em outras mulheres que são ameaças e que moram em lugares onde não há delegacia da mulher. Se elas esperarem seis meses para que os ameaçadores sejam identificados, elas podem morrer ou ser estuprada.
A jornalista diz ainda que desde que o movimento surgiu no Facebook ela tem recebido milhares de mensagens de mulheres que já foram estupradas. Segundo ela, os relatos confirmam as estatísticas de que a maioria dos estupros ocorre dentro da casa das vítimas, por pessoas conhecidas, como parentes.
— O estupro não ocorre somente no beco escuro, mas também no quarto ao lado, incluindo os ataques sexuais sem penetração que também são estupros. E também os casos de abusos sexuais com mulheres dormindo ou bêbadas, os que têm crianças como vítimas.
Nana Queiroz também alerta que nesses casos é importante que as pessoas próximas às vítimas as incentivem a denunciar os agressores.
— Uma vítima de estupro é um trauma tão grande que ela não vai sair contanto para a polícia primeiro, ela conta para a mãe, tia, amigas. Ela está muito vulnerável, por isso precisa ser encorajada.