À primeira vista o enredo do filme parece retratar uma simplicidade. Mas logo se percebe que esta história nada tem de simples, pois os conflitos apresentados revelam ser essa sala de aula um microcosmo da sociedade francesa atual. Diferenças étnicas, culturais e de classe sobressaem-se imediatamente, gerando conflitos entre os alunos e os professores, e entre os alunos entre si, dando movimento e força à história. Outrora uma grande potência colonialista, a França foi alvo de um intenso fluxo migratório na segunda metade do século XX, fluxo este necessário para o desenvolvimento de sua economia. Esta imigração, porém, não se dá sem conflitos, devido principalmente à diversidade de valores e culturas trazidos pelos imigrantes. A França sempre se orgulhou do caráter laico e universalista de sua cultura, e prometia a cidadania francesa a todos os que a abraçassem – no que revela a particularidade de ser universal apenas na medida em que a cultura do Outro desapareça. Porém, nem todos os imigrantes estavam dispostos a abandonar sua cultura prontamente; querem ser integrados, mas mantendo a sua diferença. Por outro lado, os movimentos de expansão e retração da economia aumentam ou diminuem a oferta de trabalho para os imigrantes, gerando, em muitos momentos, uma massa de homens sem espaço na sociedade. São estes os conflitos que reaparecem ao longo do filme, encarnados nas personagens: de um lado o professor, típico representante da cultura laica francesa, e do outro os alunos, filhos desses imigrantes, perdidos entre o desejo de encontrarem espaço nesta configuração social, e a revolta ante a falta de oportunidades devida à sua origem étnica, e a pouca valorização de suas origens culturais.
O ápice deste conflito, também clímax do filme, se dá no julgamento disciplinar do aluno Souleyman, que ao final é expulso da escola. Chama atenção a total impossibilidade de diálogo entre o corpo de professores, e o aluno e sua mãe. Esta não falava francês e, inacreditavelmente, nenhum dos professores conseguia entendê-la; ou seja, entre os professores não havia nenhum com origem étnica semelhante aos alunos (o que mostra bem a dificuldade ou quase impossibilidade de ascensão social), e nem ao menos um que, "apesar" de sua origem francesa, tivesse desejado aprender a cultura ou a língua dos alunos, reforçando a idéia de que, entre os alunos e os professores, há mesmo um abismo intransponível, um diálogo impossível. É este o cerne da questão ética presente no filme: os professores daquela escola sentiam-se tão superiores a ponto de nem sequer se interessarem em aprender alguma pouca coisa a respeito da cultura e da origem étnica de seus alunos? Ao final, fica claro que estes conflitos não serão resolvidos imediatamente, e a escola tende a reforçar a situação social que os seus alunos vivem em seu cotidiano. Seria preciso, então, um esforço ético de ambas as partes, que principiaria pela necessidade de um maior diálogo entre as partes conflitantes. Esse diálogo deve começar pelo respeito às diferenças, pela necessidade de compreender minimamente o Outro, de se colocar no lugar do Outro, de maneira a entender melhor as suas necessidades e problemas.