As implicações do eterno retorno levarão inevitavelmente a outro conceito muito importante que Nietzsche chamou de amor-fati (do latim, amor ao destino). Se tudo retorna eternamente, e exatamente como é agora, então é imprescindível ao homem seu destino. Se não existe nada além desta existência, há de se concluir que apenas ela merece nosso amor.
Aprender a amar nosso destino, encontrar beleza no necessário, esta é a grande lição de Nietzsche já no fim de sua produção intelectual; talvez seu último grande ensinamento. Dizer sim à vida, porque só ela que existe e somente ela traz valor em si mesma. Esta lição serve tanto para momentos de felicidade como para momentos de desespero. Transformar o “foi assim” em “eu quis assim” dá um sentido próprio ao que aconteceu. O controle do passado implica aceitar o que lhe foi dado e tirado. Todos os acontecimentos se inserem numa ordem causal da natureza, assim como você, portanto, nada poderia ter acontecido de outra forma, nada poderia ter sido diferente, não adianta lamentar-se. Por isso a exortação de apropriar-se do que aconteceu nos torna capaz de seguir adiante. O bom e o ruim, a dor e o prazer, são inerentes à vida, amar o que lhe acontece e acontecerá é o primeiro passo para tornar-se quem é. “Em vez de esperar que um poder transcendente justifique o mundo, o homem tem de dar sentido à própria vida; em vez de aguardar que venham redimí-lo, deve amar cada instante como ele é” (Marton, p. 57).
Devemos afirmar a vida, negando toda calúnia, toda desvalorização, toda acusação que possa ser feita contra ela. Mas este ensinamento foi muito mal compreendido. O amor-fati não implica em resignação, sua lição não é de aceitação passiva , muito menos acovardar-se. Não devemos abaixar a cabeça e aceitar, nem virar a outra face. O amor-fati diz para o indivíduo amar a vida, porque só ela existe e fora do todo não há nada. E negar os negadores é uma forma de afirmar! Por isso a luta também faz parte deste amor; não se pode apenas entender que exitem paradoxos e contradições, é necessário amá-los. Devemos amar a luta, a revolta, a insubmissão. E que dizer Não seja apenas um passo para se dizer Sim cada vez mais alto! Porque temos cada vez mais vontade de dizer Sim! Vontade de estar no mundo! Vontade de amar! Amor-fati…