Penso que precisamos avaliar essa questão da indisciplina não como algo que é só da escola. A sociedade e o mundo estão muito violentos, hoje. A falta de perspectiva para nossa juventude é uma realidade e isso termina refletindo dentro da escola pública. Aliás, a escola é o único aparelho social que o Estado conta para poder fazer políticas de integração desse pessoal que vive mal, que não tem serviço, que têm poucas perspectivas num mundo extremamente competitivo. Então, o único lugar que o Estado tem para que essas pessoas possam construir algo de forma solidária é a escola. E isso, no entanto, sobrecarrega o trabalhador da escola, ou seja, os professores, pois eles passaram a ter funções que, na verdade, são de psicólogos, de assistentes sociais, e até dos pais. Há professores que terminam atuando para além daquilo que seria sua função primeira, que é ensinar.
As turmas são muito grandes mesmo e há um descompasso entre a realidade da escola e o mundo fora dela. O aluno tem, dentro da escola, acesso a coisas que lá fora, muitas vezes, ele não tem, como o computador e o acesso às novas tecnologias. Mas reitero que os professores são obrigados a exercer diversas atividades para além daquelas que são inerentes a eles. Com isso, perdem muito tempo nessas funções, dando bronca, conversando com os alunos, fazendo as vezes de um psicólogo, querendo organizar a vida do aluno por um caminho menos problemático, tentando entender aquele tipo de comportamento. Evidentemente, isso tira o tempo destinado à transmissão de conhecimento. A escola está sobrecarregada, mas ela também tem o papel de preparar o jovem no sentido de fazê-lo crescer para o mundo, para a vida. Muitas vezes uma aula, que teoricamente é perdida porque o conteúdo não foi dado, pode ser uma vitória porque, a partir dali, pode haver uma mudança de comportamento dos alunos ou de algum aluno em especial. Temos que ponderar isso.